Cama e companhia de luxo
Há pouco de romântico em ser acompanhante de luxo. Vivem duas vidas opostas que nunca se cruzam. Corpos bonitos, muito dinheiro e sexo. É o negócio do proibido. Histórias de quem espera por um homem.
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Todas as paredes são cor-de-rosa. A casa não tem cheiro, o corpo dela sim. Rita tem cabelos claros, madeixas luminosas, o lábio fino, olhar sedutor. Abre a porta em lingerie. Existe um roçar, um beijo no pescoço para provocar. Paga-se para ali entrar. São 100 euros uma hora – 950 a noite toda – e não há cliente que não queira sexo. Rita leva-os para o quarto. Tão quarto como outro quarto, paredes cor-de-rosa, na cama de casal repousam almofadas coloridas, há espelhos à frente e atrás, um chicote. Rita imagina que está ali com o amor da sua vida. Que por acaso não tem, só imagina. Quase sempre fecha os olhos. Não consegue encarar os homens com quem se deita. Apesar de ser acompanhante de luxo há seis anos. Dois anúncios na Internet são a montra para o corpo de Rita – nu, desafiante. Tem 37 anos, ou pode retirar-lhe cinco. É o que todas fazem. O seu verdadeiro nome fica só entre a família, que mantém fora de conversas. ‘Iniciei-me aos 31. Esta vida tem um prazo de validade curto. Chega aos 40 e acabou. Isto se quiser manter um certo número de clientes por dia: três, quatro, no mínimo dos mínimos.’ Fala de si própria com desprendimento. ‘Tem que se abdicar de tudo. Principalmente da vida amorosa. A minha colega [brasileira] costuma dizer que nós absorvemos a carga negativa de todos os clientes.’ – E à Rita, quem lhe dá carinho? ‘A minha cadela.’ E ri-se. ‘Às vezes aparecem rapazes muito giros.’ Mas poucos. Se bem que no seu caso, explica, é procurada por homens mais novos. Eles gostam de mulheres maduras. ‘Já tive aqui rapazes novos – maiores de 18! – para lhes tirar a virgindade. A primeira vez é uma grande responsabilidade. Pode-se traumatizar uma pessoa e, na maior parte das vezes, corre muito mal. Ou é tudo muito rápido, ou não há clima para acontecer nada.’ A primeira vez de Rita foi aos 16 anos, dentro de um carro, incomodada. Foi traumatizante, tanto que só voltou a experimentar um ano depois. Sempre foi de ter muitos namorados e de ‘curtes’ na discoteca. ‘Nunca fui feia. Até hoje, nunca houve um homem que me recusasse.’ Traiu em todas as relações. Na última, foi traída. ‘Doeu. Fechei o meu coração para os homens.’ Já ela era acompanhante de luxo. Prostituta não. ‘Considero-me prestadora de serviços.’ Sexo é o seu ofício. Das 13h até ao final da noite, Rita senta-se no sofá da sala, vê televisão, espera por um telefonema, um sms, a campainha. Tem de ganhar pelo menos 3000 euros por mês para pagar o apartamento de paredes cor-de-rosa (na zona do Marquês de Pombal, Lisboa) para andar de carro, para somar mais peças aos ‘500 quilos’ de lingerie que guarda. E para poder encomendar as refeições que quer. ‘Posso considerar uma sorte a vida que levo. Faço coisas que nunca faria.’ Não mesmo. Ganhava 35 euros por dia num restaurante. Mas como acompanhante de luxo perdeu as restrições sexuais. Perdeu e não esquece o dia. ‘Fui trabalhar para um apartamento. Tive uma semana até conseguir fazer um cliente. Iam ter comigo e eu virava-lhes a cara.’ Até que um homem, com quase 50 anos, muito baixinho, a envolveu. ‘No dia seguinte, apareceu lá com um fio de ouro para me dar. Ficou meu cliente uma série de tempo.
UMA UNIVERSITÁRIA
Há cerca de três meses, foi a vez de Ana (outro nome fictício) se iniciar. Tem 29 anos. ‘Naturalmente estava muito nervosa e cheia de ideias pré-concebidas sobre o que seria um encontro dessa natureza. Não sabia como agir, o que era esperado, o que fazer. Mas fui agradavelmente surpreendida pela positiva. Tive a sorte de encontrar uma pessoa muito educada, gentil e afável que me pôs à vontade.’ Descrevê-la fisicamente é denunciá-la. E isso é a última coisa que deseja. Mesmo que na faculdade – onde está a terminar a licenciatura na área das Ciências Sociais e Humanas – todos a vejam de calças de ganga e de ténis e não de forma elegante e sensual como quando acompanha um homem. Cliente. Namorado não tem. ‘A fé nos homens não mo permite.’ Ri-se. ‘A família não sabe, de todo. Morreriam de desgosto. Literalmente. O que por vezes se torna complicado em termos de gestão de álibis para as saídas. Não ostento sinais exteriores de bem-estar financeiro.’ Ana cobra 200 por hora pela sua companhia e pelo tempo. Não por qualquer prática sexual, diz ela. ‘Qualquer intimidade subsequente será uma escolha consentida entre dois adultos.’ Ela instala-se na vida desses homens que encontra geralmente em hotéis, motéis, jantares. ‘Tenho prazer no sexo. Mais com umas pessoas e menos com outras. Com estranhos? E os ‘one-night stand’? Também são com estranhos…’ Ana parece mais racional do que emocional com a sua vida. Talvez seja a forma de contorná-la. Como não pode gastar muito do dinheiro que recebe, guarda. O que pode, usa para despesas correntes. Nada de luxos. ‘Permite-me andar mais de carro em vez de transportes públicos. E por vezes permite-me uma refeição melhor.’ Como ‘escort’, precisa de mimar o corpo com depilação, manicure, pedicure, cabeleireiro, lingerie, preservativos, alguma roupa. Telefone e Internet.
SEXO E POESIA
Joana Well esconde o rosto nos longos cabelos loiros, por timidez, por delicadeza. A sua voz ao telefone soa como se cantasse palavras. Mas foi na Internet que descobriu uma (boa) razão para continuar a ser acompanhante. A poesia: ‘É franco o meu corpo./ Tem franqueza nos braços que se tentam abrir,/ nas pernas que tremem para acompanhar os braços/ nos olhos que tentam não olhar mas olham./ Deixei-o ter-me…’ – escreveu ela no blogue ‘Miss Joana Well’ (em missjoanaswell.blogspot.com). Só há uma forma de a conhecerem. Os clientes têm de chegar a ela através do seu blogue. Mas têm de gostar da sua escrita. Do erotismo das suas palavras. Até porque fotografias do seu corpo há poucas e estão escondidas. É o que menos lhe importa. Toda a excitação é pura poesia. ‘Os homens criam em mim uma certa empatia pelo estilo de escrita com que me respondem. Mas também me cativam muito pelo sentido de humor. Um rapaz disse-me qualquer coisa do género: ‘és tão bonita pelas fotografias. Adorava conhecer-te. Espera. Tenho que ser intelectual, senão não me dás atenção. Tens uns belos poemas, umas belas metáforas.’ Se alguém estiver apenas interessado em sexo ‘mecânico’, pode esquecê-la. ‘Não há um único homem que me tenha conhecido, nesta situação, que não possa dizer que esteve com uma mulher apaixonada. E esta paixão não é falsa, é induzida. Passageira.’ Sabe que se não fosse por dinheiro – 150 euros por uma hora e meia, ou 200 com deslocação – não estariam juntos. Primeiro à conversa, depois, na cama. ‘Mas nós podemos olhar para as coisas de outra forma, de forma às coisas serem mais bonitas.’ Quando Joana está nos braços de um cliente, concentra-se nas características dele que sejam mais apelativas. No toque, no cheiro. ‘Acaba por haver uma química. Claro que não é paixão. Mas o que é?’ Joana é uma romântica, repete vezes sem conta. Gosta do quarto mais pequeno da casa. Resume-se a uma cama grande e uma tapeçaria na parede. Nunca leva um cliente directamente da porta da rua para o quarto. Primeiro conversam. Descobrem-se. ‘Ninguém faz as coisas friamente, senão o sexo pode ser mau.’ O corpo dela esconde-se debaixo de roupas largas. Pouco sensuais. Confessa que não tem mais cuidados do que qualquer outra mulher que se sinta feminina. Mas é quente de afectos. ‘Se o cliente pretender uma acompanhante com as medidas ‘x, y, z’ não me procura a mim. Vai escolher num portal na Net, por medida.’ Há vários sites nacionais e internacionais, com mulheres portuguesas e estrangeiras que aparecem quase sempre nuas e (muitas vezes) em posições explícitas. Os preços que cobram rondam os 150 euros por hora em apartamentos privados (250 se fizerem deslocações), uma noite mil euros, um dia dois mil e dois dias três mil. O atendimento pode ser feito a casais ou com várias acompanhantes juntas. Há locais ainda, como hotéis, onde estas mulheres estão estampadas em catálogos. Os clientes são normalmente homens com boas condições financeiras. Muitos são empresários ou estão ligados a alguma área de negócios, descrevem. Segundo uma delas, o mesmo cliente que as procura um dia, na semana seguinte pode até recorrer a uma prostituta de rua. São casados? Nem todos. Insatisfeitos sexualmente? Se calhar também não. Mas todos têm de ter muito dinheiro para lhes pagar. Joana Well, 30 anos, tem um apartamento no centro de Lisboa. Não mora lá. A família não sabe, não sonha. Nem pode. Se amasse alguém, essa pessoas teria de saber. O que cria tensões. Ela atende um único homem por dia. Já lhe chega para o sustento da vida – mas também não lhe dá para luxos. Prefere não explicar as razões para não trabalhar na área do seu curso superior. Escapam-lhe as explicações para tudo o que a faz manter-se oculta. Há quanto tempo o faz? ‘Já não sou principiante. Chega?!’ Se a vida tem destas coisas, há uma que diariamente ainda constrange os clientes. ‘Nota-se o embaraço na hora de eles pagarem.’ As notas andam de mão em mão, a dançar até que aquela mulher as agarre. Pagar por alguma coisa obriga a reflectir sobre essa coisa. ‘Às vezes, oferecem-me livros com o dinheiro lá dentro.’ PERFIL Joana Well, 30 anos, está a viver momentos de alguma popularidade na blogosfera, pela sua escrita (ver em missjoanaswell.blogspot.com). Em poucos meses, escreveu cerca de 300 poemas e 90 contos. Este blogue é também o único contacto dela como acompanhante de luxo.
PRECAUÇÕES DE QUEM TEM VIDAS OCULTAS
A segurança das acompanhantes de luxo é dos pontos mais sensíveis da actividade – a par da legalidade. Estas mulheres, que trabalham liberalmente, recorrem a processos de triagem dos clientes para se sentirem seguras. E muitas sujeitam-nos a um primeiro encontro para perceberem se existe empatia. Por isso é que a forma que o cliente tem de aceder a elas, na maioria dos casos, é através de contactos de e-mail, Messenger ou telemóvel contidos nas páginas pessoais das acompanhantes, na Internet. Por outro lado, elas não temem ser reconhecidas na rua porque a maioria dos clientes também quer manter-se oculto. Rita brinca com a situação. O verdadeiro nome dela é outro. Mas se alguém a tratasse por Rita perante um familiar: ‘Ia negar descaradamente que era eu.
DISCRETAS E SEMPRE SENSUAIS
Não me visto para seduzir homens. Essa não é a minha postura. Quando acompanho, visto-me de forma elegante e sensual, mas sempre discreta e de forma apropriada à hora do dia ou à ocasião’, explica Ana (nome fictício). Esta é a postura de qualquer acompanhante de luxo. Na rua, elas não querem ser conotadas com este mundo do sexo. Vestem-se de forma normal para não chamar a atenção. Em privado, tudo muda. Podem vestir uma lingerie sensual, de cabedal, ou até bata de enfermeira.
ESCORTS FAMOSAS DEPOIS DE APANHADAS EM ESCÂNDALOS
Desde sempre, há acompanhantes de luxo associadas a escândalos. Patrizia d’Addario deitou-se com o primeiro-ministro italiano e revelou (até em livro) algumas das promessas que Silvio Berlusconi lhe terá feito. Já na década de 60, Christine Keeler protagonizou o maior escândalo da vida política britânica do século XX, quando o ministro conservador John Profumo se demitiu depois de confessar que estava envolvido com ela. O golfista Tiger Woods também foi descoberto. Uma das mulheres que lhe atribuem é a modelo Loredana Jolie, mas também Michelle Braun, a quem pagou 15 mil dólares. Em Hollywood, Heidi Fleiss foi presa em 1993 pela rede de prostituição de alto luxo. Com ela, o actor Charlie Sheen gastou mais de 50 mil dólares. Xaviera Hollander é uma das call girls mais famosas do mundo. Em 1971, foi presa e publicou o polémico livro ‘The Happy Hooker: My Own Story’ (A prostituta feliz: a minha história).
BUTTERFLY FALA DE RELAÇÕES DE PODER NO NEGÓCIO DO LUXO
Há mais de um ano que Elisabeth Butterfly deixou de ser acompanhante de luxo. Como observadora, explica que não há exactamente um mercado de luxo em Portugal. ‘O luxo, no sentido da oferta muito reservada de mulheres singulares, quer pela sua formação ou pela restrição da procura fora de certos círculos de relações, é quase secreto: circula de boca em boca ou em catálogos feitos para esse propósito, como se de modelos se tratassem. Nesse sentido, existe, mas existe em condomínios insuspeitos ou nas vivendas metidas em quintas conhecidas… e chega a ser alimentado por agências de modelos convencionais.’ Acrescenta a antiga ‘escort’ que muitos destes angariadores de acompanhantes de luxo não estão motivados neste negócio ‘apenas pelo fluxo monetário, mas pelo tipo de relações de poder que gera a certos níveis de influência’, gerando uma ‘relação de dependência’.
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